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Mãe Tecelã

Hoje vou tecer ideias muito além do convencional. Sou nascida em um tempo que o papel feminino era mais restrito, embora não menos importante.


Era um tempo de mulheres tecelãs, e, embora eu use esse termo de um ponto vista filosófico, a tecelã da minha infância não tinha muito tempo nem para leituras.  Com cinco filhos, a mãe viúva e as irmãs mais novas as vezes precisando de atenção. Ela tinha o dia cheio de “redes” para tecer.


Historicamente o papel de fiandeiras, tecelãs, cabia as mulheres, fossem nas tribos indígenas ou nas casas dos imigrantes de origem europeia. As meninas aprendiam muito cedo a preparar as fibras e lãs e linhas para tricotar roupas e cobertas ou fazer cestos.

Observe sua mãe de um ponto de vista mais amplo: Qual a influência dela na construção da sua história? Em quais redes que presença ou ausência dela acabaram por se materializar na sua vida?


Raras foram as mães dos 60+ que tiveram uma história individual.  O seu papel na vida, normalmente, tem significado na realização da vida dos filhos. Quantos filhos tem consciência dessa presença dela naquilo que são hoje?


Eu venho de uma família que a força se manifestava pelo feminino, seja pela superação da dor e do luto, seja pela influência que o amor exerceu sobre os meninos.  As mães são a trama sobre a qual os filhos tecem a tapeçaria da sua vida. Raros são os filhos que lembram daquilo que ela abriu mão para que existissem. Ela também já teve sonhos, planos e metas e um dia se viu, com um pequeno ser dependendo dela para tudo.  


Certa vez ouvi um mestre budista falar sobre nós ocidentais como mal-agradecidos, ele disse:

- Engraçado como vocês ocidentais se queixam de suas mães. Vocês nunca avaliaram o trabalho que deram? Então, outro ser, lhes carrega no ventre por 8 à 9 meses, depois lhe carrega no colo, amamenta, limpa, nutre e limpa, sucessivamente por anos e vocês continuam achando que é pouco? 


Na sequência, ela acaba apenas como a mãe do fulano ou fulana, quase sempre ligada a uma rede parental, sem uma vida muito significativa além de ter criado você.  De fato, todo o suporte existencial foi por um tempo mantido por elas. Assim, na vida da maioria das pessoas, os pais fizeram “grandes coisas” e as mães “só fizeram coisas comuns”.


A tecelã lá de casa sempre foi fascinada por tecidos, linhas e lãs, e, assim como nos ensinou a fazer tricô, bordar e pregar botões também manteve a família reunida.  


Zelo, cuidado, promove a elaboração de pessoas melhores para nosso mundo.

Nesse domingo, onde quer que ela esteja, apenas seja grato aquela que permitiu ser quem você é. 






Ane Kieling – Palestrante, Arquiteta

Sócia da Cerutti Engenharia e estaqueamento

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