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PNE - Portal Nacional da Engenharia entrevista Ane Kieling

Atualizado: 27 de mai.



Portal Nacional da Engenharia: Pode compartilhar um pouco sobre sua jornada profissional como arquiteta e urbanista?

 

Ane Kieling:  Trabalhei uns 25 anos como arquiteta, num período de economia muito difícil, com inflação alta e planos econômicos que mudavam tudo de uma hora para outra. Pagar o aluguel do escritório às vezes era um sufoco pois os clientes pagavam todo mundo e deixavam os arquitetos por último. Projetei casas, condomínios e edifícios. Tinha uma proposta de projeto residencial que eu chamava de Arquitetura Biodinâmica, que analisava as linhas Hartmann, as cores, fluxos energéticos muito antes do Feng Shui se tornar moda.  Em 2000 estava frustrada e decidida a deixar a arquitetura, talvez até deixar o país por uns meses, quando acertei um bom contrato. Em 2001 o Eng. Cerutti entrou na minha vida.  Comecei a auxiliá-lo na empresa até entrar de sócia.

 

Portal Nacional da Engenharia: Quais foram os principais momentos que a levaram a se envolver em ações sociais?

 

Ane Kieling: A liderança comunitária está no meu DNA, meu avô materno foi fundador de vários clubes de canto e de tiro. Meus tios paternos como escoteiros acompanhavam Henrique Roessler desde jovens. Meu pai foi presidente do Rotary e de vários CPMs, estava sempre pronto para uma atividade voluntária.  O marco inicial das minhas atividades comunitárias e de liderança começou em 1986 com um movimento chamado Projeto Novo Hamburgo como Meta, desenvolvido junto ao Jornal NH tendo a cidade de Novo Hamburgo como base de análise. A resultante mais concreta desse ano de trabalho voluntário foi a conquista do Parcão – o parque Luiz Henrique Roessler e a sensibilização quanto à importância da Preservação do patrimônio histórico de NH. Depois foram várias ações e projetos ao longo dos anos associados à sustentabilidade ambiental.

 

Portal Nacional da Engenharia: Em que tipo de ações sociais você está atualmente envolvida?

 

Ane Kieling: No momento estou em fase de transição de na empresa e na carreira, participamos de atividades do Instituto Victoria Nahon quando a próxima deverá ser na Páscoa e em palestras motivacionais. Estamos em tratativas com a ACI de Iraí.

 

Portal Nacional da Engenharia: Pode destacar alguns projetos específicos que considera significativos para as comunidades atendidas?

 

Ane Kieling: A ação dos engenheiros solidários que o CREA RS desenvolveu no ano passado foi fundamental no apoio as comunidades atingidas pelas cheias do rio Taquari foi muito significativa, tanto pelo nível de destruição que as comunidades sofreram, quanto pela simplicidade das necessidades: alguns queriam apenas um abraço, quanto pela resposta voluntária, (teve um dia em que 4000 mil voluntários se apresentaram para auxiliar no que fosse necessário) ou pela determinação da comunidade de Nova Roma e arredores na reconstrução da ponte. Nosso povo se mostrou gigante e não tem como sair igual se você participou de perto nessas ações. Nós brasileiros somos diferenciados e sim existe esperança em meio à destruição. 

 

Portal Nacional da Engenharia: Como você vê a interseção entre arquitetura, urbanismo e ações sociais? De que maneira essas áreas podem colaborar para criar ambientes mais inclusivos e sustentáveis?

 

Ane Kieling: Eu venho de uma geração que os arquitetos eram muito ativos na melhoria de nossas comunidades, não vejo isso mais com tanta intensidade atualmente, ao menos nas profissões tecnológicas, hoje vejo o impacto das cooperativas de crédito muito mais eficaz na busca de soluções efetivas para sua comunidade.

 

Portal Nacional da Engenharia: Quais foram os desafios que você enfrentou ao incorporar aspectos sociais em sua prática profissional?  

 

Ane Kieling: O problema foi fazer isso muito antes de isso ser valorizado, nós passávamos por idealistas malucos. Hoje a ação social já entra na valorização do teu Branding pessoal e profissional, na década de 80 e 90 era “coisa de gente esquisita.”

 

Portal Nacional da Engenharia: Como superou esses desafios?

 

Ane Kieling: O que você leva da vida, senão experiências e aprendizados como diz o ditado: “O que não nos mata, nos fortalece!” 

A habilidade de renovação e ressignificação nos acompanha em qualquer desafio que surja na vida. E, se você conquistou uma situação confortável, num país como o nosso, temos que ser gratos todos os dias.

 

Portal Nacional da Engenharia: Pode compartilhar uma experiência em que percebeu um impacto tangível de seus projetos na vida das pessoas?  

 

Ane Kieling: No campo do voluntariado foram muitos, nos projetos arquitetônicos foi mais frustrante.  Foi quando percebi que as pessoas não faziam suas casas para serem felizes e sim para causar inveja aos amigos, parente e vizinhos, eu migrei para engenharia. Como nós há mais de 20 anos atuamos com estaqueamento e sondagem, trabalhamos com o que não é visto. Ainda hoje vemos clientes e profissionais querendo economizar numa área tão importante quanto fundação. As pessoas gastam fortunas numa oliveira para seu jardim, mas escolhem a base do seu lar pelo preço e não pela qualidade.

 

Portal Nacional da Engenharia: Como você acredita que a arquitetura e o urbanismo podem contribuir para a redução das desigualdades sociais e promover a inclusão?

 

Ane Kieling: O que muda o mundo são as pessoas e essas precisam se curar de seus traumas ancestrais se quiserem evoluir. Venho de uma família de mulheres sobreviventes, que saiu da miséria extrema para universidade em duas gerações, algumas foram além nas suas vidas, outras criaram situações de vida muito piores que as receberam.  O urbanismo tem que melhorar muito na questão de acessibilidade e mobilidade urbana.  Costumo dizer que a lei de acessibilidade às vezes cria uma rampa inacessível para todos. Você só saberá o quanto é difícil a mobilidade para um cadeirante, quando tiver alguém na família. São rampas impossíveis, que terminam em grelhas onde as rodas trancam. São verdadeiros absurdos. Como quem fiscaliza não compreende a dificuldade, elas acabam autorizadas e estão aí nas nossas calçadas. Sem falar nos vasos de flor colocados sobre o piso tátil.

 

Portal Nacional da Engenharia: Além dos aspectos físicos, em que medida seus projetos consideram as necessidades emocionais e culturais das comunidades envolvidas?

 

Ane Kieling: Há 20 anos trabalho na gestão de uma empresa de estaqueamento, então não tenho trabalhado com projetos arquitetônico e urbanísticos. Mas, com as questões ambientais cada vez mais urgentes, com muitos desastres ambientais como no ano passado aqui no Rio Grande do Sul, as comunidades precisam ser fortes e determinadas para manter seus valores. Quando a comunidade participa, as cidades são mais humanizadas.

 

Portal Nacional da Engenharia: Quais são as parcerias ou colaborações mais importantes que você estabeleceu ao longo de sua carreira para impulsionar projetos sociais bem-sucedidos?

 

Ane Kieling: Participei em diversas associações profissionais como ASAEC, ACI-NH – CREA já tivemos resultados mais expressivos.  O terceiro milênio parece mais egoísta, mas se você souber como e onde influenciar pode fazer muito. Tem uma frase de Ronald Reagan que ilustra bem: “Você consegue realizar muito se não se importar com quem ganha o crédito.”

 

Portal Nacional da Engenharia: Como você vê o papel da educação na promoção de ambientes urbanos mais sustentáveis e socialmente justos?

 

Ane Kieling: “A gente se preocupa em deixar um mundo melhor para os nossos filhos, mas nós deveríamos nos preocuparmos em deixar filhos melhores para o mundo.’ Clint Eastwood

Eu vejo que a geração que de fato se importou com isso está envelhecendo, alguns até já morreram. Mas, vejo nas cooperativas, quando estas seguem os princípios cooperativos, uma educação transformadora que faz com que as crianças aprendam a ser mais democráticas e socialmente responsáveis. A sustentabilidade acaba sendo uma consequência dessa visão estudada nas cooperativas escolares.

 

Portal Nacional da Engenharia: Está envolvida em iniciativas educacionais nesse sentido?

 

Ane Kieling: No momento meu foco são as palestras sobre Inteligência Espiritual, quando as escolas me chamam, eu mostro aos jovens como essa é a raiz para nos tornarmos seres humanos melhores. Ser justo significa respeitar o outro como a si mesmo. Ser sustentável é ter consciência que nossas escolhas têm impacto no meio ambiente. Compreender que a 3º lei de Newton, sobre a ação e reação vale para vida, mostra indícios de Inteligência espiritual.

 

Portal Nacional da Engenharia: Que conselhos você daria a arquitetos e urbanistas que desejam integrar ações sociais em sua prática profissional, especialmente aqueles que estão no início de suas carreiras?

 

Ane Kieling: Essa indicação vale para qualquer profissional, quando você tira um tempo para o voluntariado, ou para a liderança comunitária você começa a ser mais feliz. Você não vai salvar o mundo, mas será mais um buscando soluções, despertando sua essência construtiva. Já está provado que uma ação empática cria uma liberação de oxitocina em pelo menos 3 pessoas: naquele faz o gesto, no que recebe e no que observa. As empresas e comunidades mais empáticas são mais eficientes, mais confiáveis e mais prósperas.

 

Portal Nacional da Engenharia: Poderia nos falar um pouco sobre projetos futuros e novas ações?

 

Ane Kieling: Bem, tenho dois projetos na área de produção de conteúdo, um pessoal na que é transmitir ao maior número possível de pessoas como despertar e desenvolver a inteligência espiritual. O outro é mais técnico é um plano de capacitar profissionais da construção civil e investidores para saber escolher um estaqueamento pela sua qualidade e não pelo preço. O melhor resultado é o valor justo, o menor preço nem sempre é a solução e pior nem sempre significa a solução mais econômica de fato.


O Portal Nacional da Engenharia agradece a atenção e colaboração e em breve teremos novidades.


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